É impossível analisar esse jogo sem dar um pouco de backstory da minha experiencia com ele mesmo antes do lançamento. Isso querendo ou não afetou diretamente o como eu vejo ele mesmo anos depois e ainda torna muito complicada a interação em conversar com alguém sobre como esse é um dos meus jogos favoritos mesmo que ele me faça muitas vezes me sentir em meio de uma relação extremamente abusiva de amar alguém que me odeia mas que ainda me agrada a ponto de que eu só não consigo parar de ir atrás.

Essa é minha terceira analise desse jogo. A primeira foi no seu lançamento, que todos vão sempre lembrar como um dos mais desastrosos da indústria. Publicidade e hype descontrolado, diversos adiamentos mexendo com a ansiedade do público, e acima disso um sonho para grandes sonhadores, que como eu, morderam a granada comprando esse jogo na pré-venda e caindo de cabeça no que pra sempre seria motivo de piada para um dos títulos mais antecipados do ano.

Uma palavra resume meu primeiro contato com o jogo: Injogável. Depois do prologo me deparei com quedas grotescas de FPS que poderiam sim ser influenciadas pelo meu Hardware na época, mas vou entrar mais em detalhes sobre como a otimização do jogo contribuiu sim para isso. Crashes e mais crashes, quests que poderiam ou não quebrar dependendo da sorte, inimigos em T-Pose em cima ou dentro do chão, eu vi de tudo. Depois de 7 horas, abandonei o jogo desinstalando-o e fazendo uma análise negativa irônica com humor questionável como sempre faço quando estou frustrado com algo. Não reembolsei por que eu estava em estado de negação, não tinha como dar errado, e deu! Queria apelar pro clichê do sonho que virou pesadelo, mas na verdade eu superei bem rápido e ele virou um entre as centenas de jogos que abandonei na minha biblioteca.

Minha segunda chance pra esse jogo veio quando através de atualizações a CD Project RED concertou boa parte das quests problemáticas, melhorou bem a otimização e adicionou o FidelityFX, que ao custo de parte da resolução do jogo, permitiu que meu hardware ainda mais primitivo conseguisse tankar os trechos que mencionei no paragrafo anterior. Quando eu dei Load no meu save no meio daquele lixão onde o prologo termina e vi que tinha FPS o suficiente pra transitar pela rota eu instantaneamente analisei positivamente pontuando o como estava otimista com o como algo grande podia surgir daqui. Abandonei esse save 18 horas depois por motivos pessoais que me fizeram ficar longe da internet como um todo e focar no trabalho/saúde mental.

E isso nos trás a hoje, com o anuncio da Phantom Liberty a qual já fiz pré-venda, criei um novo save pra uma experiencia nova ainda sem esquecer dos demônios que assombram esse jogo e até agora vem sendo a melhor experiencia de RPG que eu já tive, e eu não to nem brincando.

Eu amo a história de Cyberpunk, e a essa altura já deve ser o fantasma do natal passado, mas é absurda a capacidade desse jogo de fazer com que eu me importe com seus personagens, ele consegue em poucas horas criar um vinculo Player/NPC com um personagem que a gente sabe que vai morrer desde os trailers bem no começo do projeto e a morte dele ainda é impactante pra caramba, com direito a velório e palavras de despedida.
A gameplay é exploitavel até certo ponto, você consegue ficar realmente bem O.P. se se focar sua build em algo, não existe desafio algum no game mesmo em configurações de dificuldade mais alta, é mais fácil o jogo dificultar sua vida pro crashar e fazer você perder progresso ou bugar uma quest apesar de estar bem mais raro e do que um dia já foi (é importante enfatizar isso, no meu save atual não tive que deixar de fazer nenhuma quest por causa de problemas técnicos e isso é muito diferente do que foram minhas experiencias anteriores). Sim, o jogo vai crashar. Isso vai sim limitar a playerbase do jogo e o preço é sim um agravante mas isso não vai impedir alguém que joga qualquer lixo que a bestheda soltou na última década apertando F5 a cada 10 passos.

Por fim, queria citar um detalhe que me pegou despercebido e me fez ficar muito feliz com a atenção aos detalhes desse jogo. Sabe aquele NPC que citei? O que morre? Eu liguei pra ele por acidente e descobri algo incrível. A qualquer momento do jogo você pode ligar pra ele, a ligação cai por que a linha já não existe mais, mas você pode deixar um recado e a V usa esse espaço pra atualizar ele sobre as novidade na vida dela e desabafar, mesmo que de forma terapêutica por que no fundo no fundo ela sabe que ele nunca mais vai atender. O Luto é algo muito pessoal, e eu admito: Eu já fiz muito isso, por alguém que eu amava muito, perder não é fácil. A V é humana, uma das personagens mais legais que já gostei de interpretar em um RPG, considero ela quase uma amiga. A dublagem contribui muito pra isso e até me deixa indeciso pois mesmo eu achando a dublagem original incrível, a regionalização de algumas piadas e textos na tradução PT-BR são INCRÍVEIS, caso você não saiba boa parte das missões do jogo são nomeadas a partir de músicas, e isso acontece na versão traduzida também em quests como "Vou de Táxi" e "Festa estranha com gente esquisita". Cara, que fantástico.

A trilha do jogo as vezes me pega de jeito também, contribui pra caralho com a imersão de dirigir por Night City. Eu nunca uso viagem rápida, dirigir numa avenida com minha motinho ouvindo SAMURAI é muito terapêutico e eu não troco por nada. Never Fade Away, A Like Supreme, I Really Want to Stay at Your House, tem pra gosto. Eu inclusive costumo buscar a trilha no youtube enquanto jogo outros jogos.

É comum nessa industria ouvirmos de games que se reinovam, se tornam coisas totalmente novas e muitas vezes saem da lama como pequenos diamantes. O jogo que nos foi prometido nunca vai existir, mas aqui tem um dos melhores jogos que joguei em toda minha vida assombrado por uma ferida que nunca vai sarar, e não precisa!

Se você tem o jogo, eu sinto sim que você deveria dar uma chance, se os problemas técnicos do jogo são de mais ou se você não consegue suportar a ideia de abrir um jogo e ele instantaneamente crashar, eu te entendo. Mas se você consegue relevar isso em nome de uma historia bem contada e ignorar a falta de desafio em troca de uma experiencia casual e mais divertida, esse aqui é o titulo perfeito. Você consegue facilmente um desconto de 50% se esperar ou ir pro lugar certo, então o preço já não é mais um bixo de 7 cabeças caso você ainda não tenha adquirido esse jogo.

Em dezembro eu disse na ultima analise que esperava voltar aqui para dar um veredito definitivo, e finalmente me sinto a vontade com esse ideia. Ainda estamos longe da perfeição, mas eu queria parabenizar a CDPR por ser uma das poucas empresas que partiu meu coração e me reconquistou.

Já me considero um filho de Heywood. Que venha Dogtown!

EDIT(26.08.23): Eu consegui a platina do jogo recentemente e acho que minha principal critica vai vir ao level cap do jogo ser o level 50. Eu entendo que talvez qualquer level acima disso ia quebrar completamente o balanceamento (deixando o jogo que já é muito fácil ainda mais fácil) mas por mais da metade da minha experiencia eu já estava no level máximo e não poder reconstituir os atributos é algo muito chato principalmente com algumas conquistas tendo requisitos como 18 em força. Espero que como a DLC vai mexer com o combate, policia e gameplay no geral o desafio possa ser implementado e o level cap aumentado (ou até removido sinceramente). As opções de romance também são bem limitadas e eventualmente você esgota as falas e fica preso a ter sempre as mesmas conversas ou ouvir sempre a mesma frase ao ir a safe house do seu par, seria legal se implementassem isso, é uma mecânica muito imersiva. Depois do último trailer estou muito hypado, e isso me trás um péssimo dejavu. Espero que a CDPR reconquiste de vez minha confiança e que eu não tenha que esperar mais dois anos pra concertarem a Phantom Liberty.

Bom, não existe final feliz em Night City. Essa é uma frase que você vai ouvir bastante vendo por analises do jogo no Youtube e principalmente naqueles videos que tem como objetivo falar sobre uma possível redenção desse jogo levando em conta o episodio turbulento que foi seu lançamento, e é impossível falar sobre Phantom Liberty sem comentar um pouco a respeito.

Eu descrevi de forma detalhada na minha analise do jogo base minha experiencia como alguém que comprou esse jogo no lançamento com um PC que não atendia os requisitos mínimos, as dores de cabeça e o motivo pelo qual abandonei diversos saves até dar uma chance improvável nas minhas últimas férias do trabalho para o que viria a ser a experiencia mais visceral que já tive com um video game. Pode rir sobre o quão sensível eu sou mas já me peguei a beira de chorar com esse jogo, ele mexe comigo a um nível muito pessoal, e apesar de eu ter feito a pré venda da DLC, foi somente hoje, um ano depois e novamente de férias que pude jogar ela do começo ao fim e eu sinto que não poderia ser um melhor momento para revisitar Night City.

É seguro afirmar que o jogo que você encontra se comprar hoje em seu patch 2.12 e o jogo que eu joguei a um ano no patch 1.63 são essencialmente dois jogos diferentes. A arvore de habilidades e os implantes cibernéticos foram totalmente reformulados, a IA Policial foi totalmente refeita, um novo sistema de armadura que permite que você use a roupa que você quer em vez da que tem mais resistência além de balancear o combate com uma nova mecânica para itens de cura e granadas, foi também adicionado o combate em veículos junto com diversas outras melhorias nos relacionamentos do jogo (atenderam meu pedido!) e até mesmo um sistema de metro para viagem rápida, sim o mesmo do trailer! E só levaram alguns anos!

Piadas a parte, é uma lastima que esse jogo vai ter que carregar o fardo de ser um dos lançamentos mais problemáticos da industria, e eu ainda vou ter que ouvir gente que nunca nem tocou no jogo falar merda por que sei lá o (insira youtuber) falou que o jogo é ruim, mas sério, se você tem o jogo e está disposto a dar uma segunda chance ou tem interesse em comprar eu posso assegurar que boa partes dos problemas técnicos que impediriam a sua progressão ou comprometeriam a performance do jogo já não existem mais.

Com tudo isso dito posso finalmente focar na Phantom Liberty e admito que minha primeira impressão da DLC foi bem relutante. O distrito de Dog Town parecia bem pequeno, a primícia me soava muito pretensiosa com toda a questão com a presidente dos NEUA e de forma geral eu costumo não gostar de DLCs, mas conforme a história avançava e eu comecei a me importar com os personagens eu vi um potencial que posso afirmar com certeza que cumpriu e ultrapassou qualquer expectativa que eu vinha criando desde então.

Nessa expansão você vai encontrar um leque gigantesco de novas armas, implantes, veículos de combate, algumas novas atividades, serviços e uma história muito cativante, que para mim é onde Phantom Liberty realmente brilhou. Eu sinto que as missões secundarias estão bem mais memoráveis com um foco narrativo que não se limita a apenas ler um monte de texto opcional para entender por que você "esta indo la e matando aquele cara", com direito a consequências que dependendo do quão imerso você esta no roleplay vão realmente te deixar pra baixo.

Acho que o meu maior criticismo em cima de tudo que mencionei é que algumas dessas novas mecânicas não são realmente tão exploradas. A nova arvore do Relic é algo que antecipei bastante mas de forma geral só usufrui de uma das vantagens dela por boa parte da DLC, sendo por falta de exploração da minha parte em não pegar os terminais que dão pontos para que você consiga upar essas habilidades ou seja por que minha build não se beneficiaria da ramificação focada em stealth e de forma geral eu não gosto dos implantes de combate o que me fez focar apenas nas habilidades que exploram vulnerabilidade dos inimigos, essa sim que é muito divertida de usar.

O combate de carro é outro exemplo que sinto que poderia ser melhor explorado, nenhuma missão da DLC usa realmente essa mecânica, claro você pode e deve usar isso quando quiser, até por que é bem divertido mas de forma geral não tem realmente atividades onde você consegue extrair o máximo disso. Outra coisa que senti no jogo base é que a IA dos inimigos não responde a altura, você consegue parar o carro e só atirar na cabeça de seja la qual ameaça tenha ao seu redor e eles vão focar em atirar no carro, o que levaria MUITO tempo para realmente explodir o veiculo, ou seja, estou imune a dano e livre para mirar e atirar na cabeça dos alvos e se eu parar o carro eles param também e ficam atirando no carro que nem idiotas, poxa cheguei inclusive a ver um inimigo com laminas simplesmente parado por que a IA dele não permite que ele me tirasse do carro e ele também não tinha armas para me ferir...é bem decepcionante e sinto que faltam oportunidades a não ser que você realmente force a perseguição a acontecer. Se fosse uma mecânica implementada desde o inicio, talvez estivesse de forma mais natural dentro do jogo, mas fico feliz que colocaram ainda sim.

Até então eu só tinha jogado o jogo dublado em PT-BR então peguei essa jogatina para jogar com a dublagem original e queria aproveitar para parabenizar a dubladora da V e o Keanu Reeves no papel de Johnny Silverhand. Eles estão excepcionais no jogo base mas na DLC eles tão dando um show de performance. Uma cena em particular, que não posso falar por que seria spoiler de um dos finais, mas posso assegurar que é uma aula de atuação por parte dos dois.

Por fim, acho que a DLC capturou perfeitamente bem a essência do jogo, mesmo tendo os trechos de ação extremamente frenéticos do tipo que você só veria em Bushido X, ainda acompanha a dose de melancolia que eu espero de qualquer mídia desse universo, um tema que você vai ver recorrentemente nos personagens da DLC é o remorso e a determinação, a balança entre a liberdade e o cumprimento do dever.

Night City é um organismo vivo, uma cidade para pessoas com sonhos onde lendas morrem e se tornam mártires, e mesmo com isso em mente durante toda minha jornada já que é algo que eu digo e repito já que venho a anos tentando convencer alguns amigos a jogarem esse jogo para que eu pudesse conversar sobre, ainda sim o jogo conseguiu acender uma chama de esperança pela sobrevivência da V e pelo melhor dos finais para todos esses personagens. Eu aconselho muito a quem for jogar a DLC que comece um jogo do zero, e avance a DLC ao mesmo tempo que avança a história principal por que as decisões e as conexões do jogo base vão abrir diversas possibilidades dentro da DLC e incrementar muito alguns dos finais.

Eu espero muito poder consumir mais de Cyberpunk por qualquer mídia que seja, um universo intrigante e com muita história para contar. Espero de coração que a CDPR consiga expandir ainda mais esse que é para mim o meu jogo favorito.