"Lost Records: Bloom & Rage" é uma narrativa que se passa em dois períodos: o verão de 1995 que uniu e mudou a vida de quatro amigas (que formam a banda Bloom & Rage) e o ano de 2022, 27 anos depois daquele verão na qual uma misteriosa promessa de nunca mais falar daquele verão foi feita, sendo esta promessa quebrada por uma misteriosa encomenda destinada a banda.

Vi muitas reviews referentes ao jogo, na qual o mesmo é descrito como "O sucessor de Life is Strange" ou "O Life is Strange 3 que nunca tivemos" mas eu sinceramente devo discordar. Embora adore a franquia de LiS, sendo este o jogo no qual fui apresentado a DONTNOD, entendo a perspectiva que alguns possam ter e claro que haverá a comparação, mas vejo Lost Records trabalha uma temática bem diferente de LiS. Enquanto Life is Strange foca em como nossos fortes (no caso os poderes) não nos tornam imunes a difíceis decisões e também o quão importante é conhecer e entender as pessoas, Lost Records é uma narrativa focada em memórias, sobre como elas nos moldam e também nos mudam, como a união faz a força e com ela podemos encarar nossos medos.

Agora focando em Lost Records, me impressiona o nível de detalhe que a DONTNOD conseguiu chegar. Agora trabalhando na UE5, é inacreditável o quão rico os cenários de Lost Records são, desde o quarto da Swann até a floresta aos arredores de Velvet Cove. Há tanta, mas tanta coisa para se ver e interagir que dá até alívio ter uma filmadora o tempo todo. Dos animais aos grafites, das paisagens as pessoas, tudo é tão vivo que dá para ficar apreciando os diversos cenários por horas, o que como eu disse, nos leva á um novo patamar de imersão, que raramente sinto em jogos narrativos. E tudo isso experienciamos através dos olhos da nossa protagonista, Swann Holloway. É muito legal comparar as interações que temos em 1995 com as que temos em 2022, por que dá para notar de verdade o amadurecimento da personagem depois destes 27 anos. Acho que todo mundo tem alguma lembrança de como é ser adolescente (alguns ainda devem estar vivendo esta fase) e dá para se identificar, mesmo sendo uma personagem pensada em outro país, em outra época. Ser adolescente é estranho e desconfortável, e as garotas conseguem transmitir isso muito bem (fica aqui meu elogio aos atores e também toda a equipe de direção) e quando vamos para 2022, os próprios personagens são cientes disso.

A história é divida em duas fitas (sendo a primeira fita lançada dia 18/02 e a segunda programada para 15/04). Esta review foi feita antes do lançamento da fita 2.

O foco da primeira fita é nos apresentar a Bloom & Rage: como se conheceram e o que fortaleceu a amizade das garotas, assim como nos deixar algumas pistas do que pode ter levado a promessa de esquecer o aconteceu em 1995. Neste sentido, a fita 1 fez seu trabalho com perfeição, pois a visão que temos de 95 é que de está sendo criado ali um laço inquebrável, o que é contraditório quando chegamos em 2022. Gosto do modo que é entregue o jogo. LiS foi entregue em 5 episódios, o que pelo menos na época permitia todo tipo de teoria da conspiração (o que eu acho muito bom). Dá tempo da trama ser aproveitada e de conseguirmos absorver a montanha-russa de emoções que este gênero nos proporciona.

Outro acerto preciso da DONTNOD fica para a trilha sonora. As música encaixam como uma luva, e para quem lembra da memorável trilha sonora de LiS, aqui também haverão músicas que ficarão na cabeça por um bom tempo. Com gigantescas inspirações do gênero Riot Grrrl, temos fortes influências de bandas como Bikini Kill e Bratmobile (inclusive citadas e até utilizadas no jogo) que dão origem a banda das garotas. Sobre a OST, elas também impactam muito a trama. Inspiradas em Synthwave e Nostalgia, são colocadas em momentos precisos que ditam o tom da trama muito bem. Os devs até mesmo disponibilizaram playlists em algumas plataformas de Streaming, que nos dão até mesmo mais profundidade as protagonistas. Minhas favoritas da OST ficam para "The Wild Unknown", "The Abyss" e claro "See You in Hell". Das músicas utilizadas em geral, "Sparks" de The Dø e "Love Thing" de Bratmobile não saem da minha playlist.

Sobre aspectos técnicos, o jogo é um pouco pesado, devo admitir. com uma 3060TI e um I5 14700K com 32GB de RAM e SSD, na maior parte do tempo consegui rodar o jogo a 60FPS, isso com DLSS e algumas configurações entre médio e alto. Houve um momento em específico na floresta em que o tempo todo fiquei com 40FPS, e embora não me incomodou tanto (já que não é exatamente necessário precisão ou consistência naquele momento) de fato é um pouco preocupante (8GB de VRAM não é mais o suficiente). Fora isso referente a bugs, houveram alguns que não atrapalharam em muita coisa, somente no final da fita 1 no meu caso houve um bug em que misturava a legenda em inglês e português, e além disso houve somente 1 crash (tbm no final da fita 1)


Resumindo: em geral está claro o quanto esse jogo me impactou né? Nunca escrevi tanto numa review da Steam que ninguém vai ler, mas acho que encontrei sim uma experiência única aqui e precisava tirar essa review do peito. Nunca fui tão participativo numa comunidade de um jogo quanto esse aqui, e é bem legal. Sei que não pode ser um jogo para todos, mas recomendo muito para quem gosta de apreciar uma narrativa e procurar detalhes e easter eggs.

Nos vemos no inferno!