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-   Rio De Janeiro, Rio de Janeiro, Brazil
 
 
I – Da Distinção Entre o Conhecimento Puro e o
Empírico
Não se pode duvidar de que todos os nossos
conhecimentos começam com a experiência, porque, com
efeito, como haveria de exercitar-se a faculdade de se
conhecer, se não fosse pelos objetos que, excitando os nossos
sentidos, de uma parte, produzem por si mesmos
representações, e de outra parte, impulsionam a nossa
inteligência a compará-los entre si, a reuni-los ou separá-los,
e deste modo à elaboração da matéria informe das impressões
sensíveis para esse conhecimento das coisas que se denomina
experiência?
No tempo, pois, nenhum conhecimento precede a
experiência, todos começam por ela.
Mas se é verdade que os conhecimentos derivam da
experiência, alguns há, no entanto, que não têm essa origem
exclusiva, pois poderemos admitir que o nosso conhecimento
empírico seja um composto daquilo que recebemos das
impressões e daquilo que a nossa faculdade cognoscitiva lhe
adiciona (estimulada somente pelas impressões dos sentidos);
aditamento que propriamente não distinguimos senão
mediante uma longa prática que nos habilite a separar esses
dois elementos.
Surge desse modo uma questão que não se pode
resolver à primeira vista: será possível um conhecimento
independente da experiência e das impressões dos sentidos?
Tais conhecimentos são denominados “a priori”, e
distintos dos empíricos, cuja origem e a posteriori”, isto é, da
experiência.
Aquela expressão, no entanto, não abrange todo o
significado da questão proposta, porquanto há conhecimentos
que derivam indiretamente da experiência, isto é, de uma
regra geral obtida pela experiência, e que no entanto não
podem ser tachados de conhecimentos “a priori”.
Assim, se alguém escava os alicerces de uma casa, “a
priori” poderá esperar que ela desabe, sem precisar observar a
experiência da sua queda, pois, praticamente, já sabe que todo
corpo abandonado no ar sem sustentação cai ao impulso da
gravidade. Assim esse conhecimento é nitidamente empírico.
Consideraremos, portanto, conhecimento “a priori”,
todo aquele que seja adquirido independentemente de
qualquer experiência. A ele se opõem os opostos aos
empíricos, isto é, àqueles que só o são “a posteriori”, quer
dizer, por meio da experiência.
Entenderemos, pois, daqui por diante, por conhecimento “a priori”, todos aqueles que são absolutamente
independentes da experiência; eles são opostos aos empíricos,
isto é, àqueles que só são possíveis mediante a experiência.
Os conhecimentos “a priori” ainda podem dividir-se em
puros e impuros. Denomina-se conhecimento “a priori” puro
ao que carece completamente de qualquer empirismo.
Assim, p. ex., “toda mudança tem uma causa”, é um
princípio “a priori”, mas impuro, porque o conceito de
mudança só pode formar-se extraído da experiência.
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