O deserto pode ser solitário. Ainda mais quando se é um androide desmemoriado.

Esse é o ponto de partida de Primordia, point-and-click que remete artisticamente aos grandes clássicos dos anos 90. Nele acompanhamos Horatio Nullbuilt 5, que junto a sua cria Crispin Horatiobuilt vive nos destroços da nave Unnic. Após ter sua fonte primária de energia subitamente roubada por um grande robô fortemente armado, a dupla precisa primeiramente garantir a sobrevivência imediata para buscar energia em Metropol, cidade a qual Horatio odeia, apesar de não lembrar o porquê. As repostas surgem ao longo do jogo e seus múltiplos finais.

Apesar do estilo pixelado abordado ser prejudicado pela alta resolução alcançada no dia de hoje, há de se saborear o valor nostálgico da arte. Os personagens, apesar de incongruências entre gameplay e cutscenes, têm designs diferenciados entre si e mostram suas personalidades à primeira vista, como a imagem de peregrino robótico de Horatio ou o visual cyberaristocrata de Oswald. Os pontos de destaque clicáveis são facilmente visíveis, evitando o pixel-hunting de que vários jogos do estilo sofrem, embora alguns pontos são destacados demais, se destacando no cenário e, somado ao fato de Crispin prover dicas sobre a resolução dos puzzles quando consultado, torna o jogo relativamente fácil quando comparado às obras da Sierra ou LucasArts. Uma qualidade do jogo raramente vista no gênero são as múltiplas soluções das barreiras encontradas pelos personagens. Uma fetch quest pode ser evitada respondendo um teste de lógica, por exemplo.

Trazendo questões filosóficas de forma sutil, como o surgimento de religiões, o papel da austeridade e da leniência na imposição de leis e a corrupção oriunda do poder, o jogo traz muito conteúdo para se refletir após o fim do jogo, o que é a cereja do bolo de um jogo recomendado para quem gosta do gênero.