Querido Diário (23/11/24)

(A) era analfabeta, desconhecia as palavras e sequer sabia escrever o próprio nome. Quando precisavam de sua assinatura, já se antecipava: “Não sei, senhor! Estudei só um pouco... até a 2ª série” — e, em tom de brincadeira, completava: “Meu lápis foi a enxada.” Apesar disso, não era tão velha, tinha apenas 18 anos. Sempre gostou de estudar, mas a morte do pai mudou tudo. A prioridade passou a ser outra: matar a fome.

Comumente, caminhava pelo bosque próximo de sua casa. Dali, podia vislumbrar a grande cidadela ao longe. Sua face corava só de olhar os outdoors brilhantes da polis, que reluziam como estrelas no horizonte. Sempre se perguntava, em silêncio: "O que será que está escrito ali? Ah, como eu queria saber." Era uma garota curiosa, cheia de inquietações. Para ela, aqueles símbolos luminosos mais pareciam hieróglifos, portadores de mistérios que a fascinavam e faziam sua imaginação aflorar. ela convicta gritou aos outdoors: “eu vou aprender a lê-los um dia!”.
A jovem sabia bem que a EJA era sua única chance de decifrar aquela magia que tanto a encantava. Com paciência, começou a conhecer o mundo das letras: primeiro as vogais, depois as consoantes, até dominar o alfabeto inteiro. Sua professora, chamada de oráculo das letras pelos alunos, era conhecida por sua paciência e sabedoria. Inspirada pelos métodos de (P), fazia dos livros didáticos ferramentas vivas, que não apenas ensinavam, mas também despertavam sonhos e questionamentos na mente da moça.

Graças aos métodos de (P), a jovem não apenas aprendeu a ler, mas descobriu algo ainda mais valioso: o poder de transformar sua própria realidade. Agora, ela possui duas asas poderosas — a leitura e a escrita. Com elas, ergueu voo e alcançou a cidade que antes apenas contemplava de longe. (A) tornou-se esclarecida, e o mundo, que antes era um enigma, revelou-se como um livro aberto, pronto para ser desvendado página por página.