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Recent reviews by Mechnar

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4 people found this review helpful
11.8 hrs on record
Um adventure charmoso que certamente alcançou o status de cult, e vale a pena até hoje.

É complicado falar deste adventure que eu tanto amo e odeio ao mesmo tempo. A saga de Nina começa aqui, e se prolongou por mais alguns jogos (comprovando que havia espaço para mais dramas e explorações), porém o real problema dos "Secret Files" é que todos acabam sendo apenas genéricos em sua fórmula e roteiro - mas o engraçado (e irônico) é que isso aqui funciona tão bem que acaba sendo um jogo com uma zona de conforto ideal para os amantes de uma aventura clássica, e certamente isso é algo inesquecível. Me fiz entender? Bem, mas vamos aos fatos.

Este primeiro jogo do que acabou por se transformar em uma franquia foi um excelente início para a mesma, mas com seus tantos altos e baixos. Inicio falando da protagonista: a Nina. É triste como a dublagem desta jovem é ruim, além de acabar ajudando - talvez intencionalmente? - a criar uma personalidade apenas.. irritante para a personagem. A cada fala, que já não se ajuda muito em certos textos cafonas, a Nina apenas parece uma garota mimada e chata, além de extremamente arrogante. Quando ela conhece o Max (que aqui ainda não pode realmente ser considerado um protagonista) e começa uma certa parceria na jornada e resolução dos puzzles, a coisa até melhora um pouco (afinal existe uma certa química), porém realmente a personalidade da personagem não convence ao querer criar uma investigação de proporções épicas e até meio extravagante. Ou seja, eu acredito que a dublagem da Nina, em conjunto com o texto de boa parte do jogo, não ajuda em nada na proposta pretensiosa que o mesmo propõe, infelizmente.

Mas, como falei anteriormente, o jogo tem sim suas qualidades. Então vamos a elas!? Bem, eu acredito que o que mais me chama a atenção aqui (desde a primeira vez que joguei, lá no seu lançamento) são as locações escolhidas e os gráficos extremamente acolhedores e chamativos. É incrível como a gente passa por cima de Nina, Max, alguns puzzles ridículos, diante de gráficos tão elegantes e ideias de contextos que tornam tudo aqui bastante divertido. Já falei como o jogo é pretensioso em se tratando do roteiro, afinal falar do mistério de Tunguska não é algo simples, pois toca em diversos fatos e mitologias, mas eles até que conseguem fazer isso muito bem. Este jogo poderia ser excelente, se não fosse, claro, o texto meio pastelão e os rompantes da Nina (que parece uma eterna adolescente tentando ser madura). Ainda tem o mistério de desaparecimento do pai da eterna aborrescente e as nada sutis investidas do Max, mas isso é realmente bem empregado na dinâmica da história como um todo. Então, sim, eu acho que esse mix meio maluco ajuda demais a tornar o jogo extremamente divertido. É aquela história de bom jogo ruim.

Sinceramente, Secret Files: Tunguska é um dos meus adventures favoritos. Não chega a ser a empreitada distópica da Kate Walker (Syberia), ou a incrível jornada da April Ryan (The Longest Journey), mas alcança seu status cult muito bem, se equiparando facilmente a jogos como Runaway: A Road Adventure. E, o principal, sabe muito bem criar um terreno que acolhe e promove uma sensação bastante nostálgica a qualquer fã de adventure games - e isso não é tão fácil. Como disse anteriormente, infelizmente possui alguns defeitos que atrapalham um pouco o aproveitamento da jogatina, e perde a oportunidade de criar mais uma protagonista feminina icônica, mas se você colocar estas coisas um pouco de lado, irá aproveitar uma encantadora e misteriosa jornada. Indico também os outros jogos da saga, mas adianto logo que a Nina continua um porre até o fim - Socorro!
Posted 3 May. Last edited 3 May.
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2
1.9 hrs on record
TELEFORUM: uma mensagem, uma crítica, um devaneio? Provavelmente tudo isso.

Antes de adentrar na curta jornada proporcionada por este maravilhoso horror psicológico, me surpreendi ao ver que foi criado por um estúdio brasileiro. Diante disto mergulhei neste conto ainda mais empolgado, afinal nada melhor do que experienciar algo construído no nosso contexto, tendo nossa língua nativa como base, e ainda lidando com uma época já passada.

O jogo não se preocupa em te dar a mão e indicar como se situar na trama, apenas te coloca no papel de um câmera - auxiliado pela destemida (pra não dizer desaforada) colega repórter - em busca de um furo de reportagem e, diante disto, entrarão num labirinto agoniante de déjà vus e intermináveis flashbacks. E é exatamente por isso que eu prefiro não dar mais detalhes acerca da trama, apesar de que - provavelmente - mesmo que eu viesse a tentar explanar algo aqui, não adiantaria de nada (haha!). Mas, não se preocupe, essa névoa que paira sobre todo o jogo é a cereja do bolo aqui e, certamente, é o que fará você rebobinar a fita VHS várias e várias vezes - para também coletar todas as conquistas disponíveis, claro!

Posso adiantar que o jogo segue através de escolhas - é um puro aponte-e-clique com escolhas de diálogos que te guiarão durante toda a jornada e te farão analisar um pouco acerca da tua própria moralidade. Tudo bem que não há coisas realmente complexas, porém é perceptível que há a intenção de gerar certo incômodo através do básico "tratar ou não tratar bem" ou "enfrentar ou não". Essas minúcias fazem com que toda a obra seja ainda mais interessante. Mas, sendo bem sincero, o que mais me surpreendeu neste jogo - além da primorosa produção, obviamente - foi o fato de ser GRÁTIS-FREE-0800. Eu teria pago facilmente para ter este produto, pois a qualidade é perceptível desde o primeiro momento em que você o experimenta.

Estou ansioso para jogar mais criações da Monumental Collab, com certeza! E agradeço demais por disponibilizarem um jogo tão interessante de forma gratuita. Isso é um presente e tanto! O único defeito desta obra é que acaba.. e rápido! Mas indico que corram atrás de todas as conquistas, pois cada detalhe - e neste jogo há inúmeros - importa demais no entendimento da trama. Se jogue ou rebobine, você que sabe.
Posted 11 November, 2023. Last edited 11 November, 2023.
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8.8 hrs on record
Aqui não temos apenas um jogo, mas uma ode ao horror folclórico e cósmico. E toda uma gama de excelentes escolhas, não apenas no roteiro, mas principalmente na direção artística. Que belo jogo!

The Excavation of Hob's Barrow nos lança ao controle de uma personagem brilhante, porém catastroficamente cética - Thomasina Bateman. Com diálogos afiados e fervorosa perseverança, a desbravadora chega decidida ao vilarejo de Bewlay no intuito de realizar a escavação do enigmático "Túmulo de Hob". Tudo parece querer afastá-la desta tarefa: habitantes locais extremamente inospitaleiros, enigmas afiados, sonhos macabros, situações perversas, e até violência extrema. Porém, Thomasina está decidida, e a sua escolha irá levá-la a um caminho sem volta. Uma jornada de descobertas e abissais consequências.

Temos aqui um maravilhoso exemplo de como um jogo totalmente retrô, pixelado e, acima de tudo, indie, pode permear tão grandiosamente entre os títulos AAA sem pestanejar, sem precisar sequer pedir licença. Aqui o resultado é realmente triunfal. Mas o que mais me instigou neste jogo foi o roteiro e as suas magníficas paisagens - que conseguiram expressar com louvor tudo o que as cenas precisavam em cada momento. Caminhar por Bewlay e desbravar seus segredos ou seus habitantes - muitas vezes nada agradáveis - nos faz sentir na pele o ímpeto e a paixão daquela personagem, pois Thomasina é tudo, porém acima de qualquer coisa ela é paixão pelo que faz, e a sua arte da descoberta a comanda. Isto logo fica claro para nós. E é diante disto que todo o jogo flui por nós como algo natural. Eu não consegui vislumbrar nada chato, nada que me parasse. Eu queria, junto à personagem, descobrir o segredo daquele lugar a qualquer custo.

Outra coisa que preciso deixar clara é a minha real admiração pela dubladora da Thomasina, que fez um trabalho realmente espetacular aqui, visto raras vezes nesse mundão gamer. Tudo bem que todo o elenco realizou o seu trabalho com o maior esmero possível, mas a vida dada à protagonista parece sair da tela - vibra. Outra característica extremamente cativante desta obra é a sua trilha sonora, que consegue evocar todo o contexto necessário em meio a todas as cenas presenciadas, principalmente em situações mais intimistas ou aterradoras. É uma trilha sonora que faço questão de possuir à parte do jogo, apenas para ouvir vez ou outra e lembrar de tudo que presenciei.

Já teci todos os elogios possíveis a praticamente todos os aspectos desta impactante obra, e exaltaria tudo novamente se fosse necessário, pois mais uma vez o mercado indie se mostra tão capaz quanto qualquer outro, até superando tantas coisas boas antes vistas. E não falarei mais sobre o enredo do jogo, pois aqui a ideia é você "crescer" junto à Thomasina em sua busca - vai por mim, saber de qualquer coisa que seja antes irá definitivamente estragar muitas surpresas impactantes. Deixe o clima de Bewlay fluir através de você e tente não se perder por entre a densa neblina local. Mas indico manter a cabeça aberta, afinal as escolhas da própria Thomasina talvez não sejam as mais corretas a serem seguidas - isso quer dizer que o jogo possui escolhas e diferentes finais? Não. Porém não seja tão duro consigo mesmo diante dos desejos e devaneios da protagonista, seja empático e apenas siga. Todo o labirinto dará apenas em um lugar, e aceitar é a melhor opção. Mas garanto que toda a sua jornada será épica.

Ahhh.. Bewlay.
Posted 29 January, 2023. Last edited 29 January, 2023.
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3.9 hrs on record
Fazia tempo que não jogava um HOG tão bem construído!

Scarlett Mysteries: Cursed Child é mais um belo HOG (Hidden Object Game) distribuído pela Artifex Mundi, porém com um gritante diferencial - ele foge ao padrão em vários aspectos e isso faz dele um destaque entre os milhares de jogos do gênero.

Infelizmente, a maioria dos HOGs - principalmente os da Artifex - tem sido dominada pelo padrão cansativo da mesmice: belos visuais, porém com história capenga e péssimas atuações, além dos "puzzles" nada originais e às vezes frustrantes e sem graça. Certo, mas qual seria a diferença com este aqui? Simples, eles mudaram a fórmula em muitos aspectos. Os belíssimos visuais continuam um padrão e isso é ótimo, afinal raramente merecem críticas negativas, porém os puzzles estão bastante divertidos e a busca por objetos se tornou muito mais dinâmica e variada, nos oferecendo interessantes opções de busca.

Em se tratando da história, claro que não podemos esperar o novo best seller mundial, porém temos um empolgante suspense que vai escalando até o seu ótimo ápice. Infelizmente as atuações continuam bem pastelonas, mas querer algo além disso em um HOG é querer demais mesmo.

O que me deixou triste aqui é o fato de - provavelmente - nunca termos uma continuação para esta obra, e diante do final "aberto" é óbvio que era planejada uma série de novos HOGs seguindo a medium Scarlett, e admito que seria muito legal jogar outras criações com esta personagem e suas maravilhosas ambientações (e poderes). O aspecto gótico que vemos aqui remete muito aos contos de Edgar Allan Poe e Ambrose Bierce, e isso é extremamente favorável para uma história que poderia ter sido apenas mais uma entre as várias existentes no infinito mundo de HOGs produzidos anualmente.

Fica aqui a minha dica de jogatina rápida e divertida. E também deixo - claro - um pedido para a criação de possíveis continuações para a jornada de Scarlett. Eu queria demais!
Posted 19 December, 2022. Last edited 19 December, 2022.
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11.8 hrs on record (6.1 hrs at review time)
Uma deslumbrante e cativante epifania!

Foram raros os casos - raros mesmo! - em que um jogo me arrebatou desta forma, mas NORCO conseguiu esta proeza facilmente. É difícil colocar em palavras todo o significado deste jogo/enredo, e soltar a mínima fagulha acerca da sua história irá certamente atrapalhar a sua imersão, portanto recomendo jogá-lo às cegas. Só vai, pois uma bela surpresa é garantida!

https://steamproxy.net/sharedfiles/filedetails/?id=2826921849
N
O
R
C
O

MAAAAS, se você quer saber alguma/s coisa/s sobre o jogo, tenho alguns comentários para tecer. Então vamos lá:

- NORCO pode ser equiparado - sem sombra de dúvidas! - aos maravilhosos 'Disco Elysium' ou 'Kentucky Route Zero', e eu ainda iria mais além: consegue superá-los em alguns aspectos. Parece impossível, mas não é. Só jogando e mergulhando nesta teia de mistérios e reflexões em pixels para entender.

- NORCO possui os diálogos mais inusitados, dramáticos ou engraçados que você irá encontrar atualmente nos games. Sem brincadeira, tem um diálogo apenas sobre uma situação que envolve enganação, cachorro-quente, polícia e diarréia que você nunca viu ou verá em outro lugar, vai por mim! E, sim, escute até o final!

- NORCO não possui dublagem, mas sinceramente isso não faz falta aqui. A trilha sonora épica faz todo o protagonismo em todas as situações fazendo com que cada ambiente pixelado do jogo seja uma obra de arte por si só.

- NORCO vai te cativar e a cada reviravolta vai te fazer refletir sobre tal situação. Talvez nem seja o intuito do jogo (apesar de que desconfio que seja mesmo), mas algumas coisas que podem parecer banais se tornam tão profundas aqui com o passar dos diálogos que eu só fui seguindo e ficando cada vez mais impressionado com o caminho que tal coisa acabou tomando. Acredito que eu só vi um texto tão afiado e certeiro no jogo Disco Elysium, e eu não acreditava que encontraria esse tipo de acerto outra vez - pelo menos não tão cedo.

- NORCO não é apenas um jogo, é uma obra de arte e merece ser jogado/lido/revirado. Visite Norco e saboreie uma realidade nada sutil, que te fará ver muito além da sua já bela capa.
Posted 27 June, 2022. Last edited 27 June, 2022.
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9.8 hrs on record (9.4 hrs at review time)
Early Access Review
É difícil explicar o que temos aqui, mas por mais estranho que pareça ler isso sobre um jogo de horror, eu diria que este aqui é um porto seguro..

Você vai se perguntar COMO ASSIM!? Mas nem eu sei explicar direito. O universo deste jogo - mesmo que cercado de um intrigante mistério bizarro e com personagens saídos de uma Twin Peaks paralela - te cativa e absorve de uma forma surreal.

Vamos lá. Você é quem você quiser ser - e eu adoro esta liberdade de gênero em se tratando de construção da personagem, e seguirá no jogo como quiser seguir. Por se tratar de uma VN (eu realmente encaixo este jogo no terreno das visual novels), alguns podem se sentir repelidos e ignorar logo de cara toda a fantástica proposta criada aqui apenas porque a sua interação será "ler o jogo". Mas adianto que estarão fazendo uma péssima dedução, pois perder esta fascinante história - que ainda está em andamento - é realmente deixar passar uma pérola enterrada.

Scarlet Hollow, a cidade que o/a protagonista agora visita, logo se mostrará um playground de interessantes mistérios, e este universo que agora você habita logo se revelará tão aterrador quanto prazeroso. Novamente, é estranho dizer isso, mas só jogando para entender o funcionamento/andamento das suas escolhas e a proposta da autora para com toda esta caixinha de surpresas. O texto é maravilhoso e quando condensado às tramas dos seus personagens tudo flui de uma forma pouco vista no mundo dos games. Eu sou suspeito para falar de leitura nos games, pois adoro, mas aqui isso surpassa o território que eu tanto visito e acabou me deixando tão confortável que eu fui apenas seguindo o fluxo da leitura e as escolhas do meu personagem foram saindo da forma mais natural possível. Eu não somente virei o personagem como também passei a me importar com tudo e todos que me foram apresentados ali. É, como falei antes, surreal.

Claro que, por mais que o jogo seja - ao meu ver - incrível em sua proposta, o jogador precisa gostar de leitura, mas isso é uma VN e se lançar aqui sabendo disso e sem gostar de ler é realmente um tiro no pé (e na cabeça). Portanto saiba o terreno no qual está se lançando.

Mas bem, personagens cativantes e universo maravilhosamente criado não é somente o que nos apresenta Scarlet Hollow - pasmem! O mistério que nos envolve logo de cara não veio pra brincadeira e logo percebemos que a coisa aqui é séria. Não estamos aqui apenas para seguir casualmente o fluxo, mas também para lidar com cenas fortes (e até grotescas). Sim, o jogo é para adultos, pois a história é adulta e realmente de horror. Daí mais uma vez vem o contraste com a imagem que passei logo de início - a de um universo confortável e até afetivo, mas é isso mesmo! A naturalidade em como todas as coisas (mesmo bizarras) vão ocorrendo está ali, e o fato de termos um pano-de-fundo de horror é apenas uma cereja no bolo para mim (que amo o gênero). Mas assim, adianto que tudo é muito bem equilibrado, pois o texto do jogo e a maneira como as coisas se desenrolam é realmente muito legal, com variados momentos que permeiam entre "alívio cômico" e até flertes casuais com outros personagens - tudo fluindo com a maior naturalidade. Vai por mim.

Não posso esquecer de falar sobre as variadas características que podemos escolher para o nosso personagem logo antes de iniciar o jogo, promovendo não somente uma enorme gama de escolhas específicas no decorrer da trama, mas também dando a certeza de que poderemos jogá-lo inúmeras e repetidas vezes só para saber o que ocorre se, por exemplo, eu escolhi poder falar com animais. É incrível!

Em alguns momentos você se sente em Twin Peaks, conversando com Arquivo X e Scooby Doo, correndo no Alan Wake, passando por Coragem: O Cão Covarde e beirando Stranger Things. Quer coisa melhor? Temos aqui um milkshake de paranormalidades e horrores cósmicos aplicados da melhor forma em uma VN que mexe com você a ponto de te transportar para aquela trama de forma única, e olhe que até agora só temos 3 episódios lançados. Ainda há muito por vir, mas se até aqui já temos isso tudo, imagina o que ainda virá? Eu não vejo a hora de poder LER mais!

Se recomendo? Você leu o texto?! VAI LOGO JOGAR!
Posted 27 April, 2022. Last edited 27 April, 2022.
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7 people found this review helpful
7.2 hrs on record
Um estranho em uma macabra terra estranha..?

A princípio, sim. Porém, através de uma aterradora - e incrivelmente interessante - jornada, Strangeland vai se revelando algo mais do que familiar em seus fantásticos detalhes, e o nosso protagonista torna-se tão íntimo para aquele terrível mundo quanto para nós, meros espectadores daquele carnaval de bizarrices.

Sem nome, sem passado, e sem dignidade alguma, o tal protagonista segue através de cenários pixelados de altíssima qualidade e psicodelia, nos atirando muitas vezes em diálogos e sequências que parecem ter sido inspiradas diretamente em retratações infernais e, claro, no mais puro horror cósmico. Mas não é "apenas" para isso que o jogo existe, afinal todo o lúgubre contexto e enredo será explicado (ou não, mas prometo que pelo menos fará certo sentido) em seus momentos finais. Em muitos momentos parece que estamos a presenciar desconexas mensagens filosóficas que são vomitadas aleatoriamente pelos estranhos personagens do jogo, mas temos que lembrar que a mente do protagonista é o real terreno dessa trama, e o absurdo é o novo normal em Strangeland.

Para quem já conhece o Wormwood Studios vai, logo de cara, remeter esse jogo ao clássico Primordia, afinal - mesmo pertencendo a diferentes gêneros - temos um contexto parecido e uma arte bem peculiar. Acredito que, por isso, alguns esperavam um tipo de sequência da excelente jornada robótica pós-apocalíptica, mas o que temos aqui é algo bem diferente. Eu diria que temos algo muito mais pessoal nessa "estranha" terra, uma história extremamente íntima, que permeia através da autodescoberta e enfrentamento dos seus medos mais profundos. Há um link muito maior entre o jogador e o protagonista, e não é porque ele é humano, mas simplesmente porque a trama evoca filosofias, passagens, estigmas, conflitos e mais uma série de coisas que nos fazem envolver-se muito mais com tudo aquilo.

O jogo possui cenas pesadas, e - eu diria- cruas, em vários sentidos da palavra, mas o contexto demanda isso e, como já mencionei, tudo fará sentido e realmente precisa ser retratado desta forma - pelo menos neste mundo medonho no qual os variados personagens estão inseridos. Mas o que vem a ser esse mundo? Quem são estes personagens tão estranhos e, por vezes, aterrorizantes? Bem, realmente só jogando para tentar entender todo esse contexto no qual somos lançados e o motivo de certas atitudes e situações corriqueiras que iremos presenciar. Mas logo adianto que nem tudo são flores no que diz respeito ao total entendimento da trama, certo? Realmente acredito que isso foi colocado de maneira proposital, e muita coisa aqui não precisa ser realmente compreendida para ser aproveitada. Uma dica: só siga os trilhos e entre pela boca do palhaço quantas vezes forem necessárias.

A jornada aqui é meio curta. Registrei 7 horas de jogatina, porém eu vasculhei praticamente tudo, interagi com todos os personagens, li todos os diálogos e cacei todas as principais conquistas. Então, certamente, daria para finalizar tudo entre 5 e 6 horas se a trama for seguida da forma mais linear possível, ou até menos. Isso é ruim? Claro que não. O jogo nos apresenta muito bem todo o seu contexto e personagens e, principalmente, consegue transmitir a sua mensagem da melhor maneira possível, nos possibilitando até inúmeras interpretações - e, na verdade, é exatamente aqui que o jogo brilha. Então, não desanime pelo fato do jogo ser relativamente curto, pois o conjunto da obra vale cada centavo investido.

Um adventure que nos apresenta uma lúdica jornada da alma travestida de brutais horrores cósmicos. Estranho? Claro, afinal essa é a real intenção de Strangeland.
Posted 1 June, 2021. Last edited 24 November, 2021.
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A developer has responded on 1 Jun, 2021 @ 8:16am (view response)
3 people found this review helpful
41.5 hrs on record
O final! Finalmente, o final.

Aqui temos um exemplo de jogo que realmente só é recomendado para quem jogou o(s) anterior(es), ou seja, o III no título realmente significa uma sequência direta, portanto cuidado ao iniciar esta jornada.

Nesta continuação, estamos mais uma vez no controle do insuportável Darren/Adrian (agora também Mordred). Posso estar exagerando, mas eu realmente não aturo a personalidade do rapaz, não adianta. Mas sim, posso dizer que neste capítulo final ele está mais maduro e certamente mais aceitável, pelo menos. No jogo iremos seguir exatamente no contexto onde o segundo nos deixa (revoltados) e inicia com um pequeno resumo de algumas coisas que transcorreram com o rapaz (que agora segue "possuído" por Mordred e irá nos amedrontar - ou fazer rir - com icônicos momentos onde o capetino se revela e demonstra seu sedento desejo por mais mortes).

Eu certamente soarei contraditório, afinal eu tenho tanto a reclamar deste jogo que nem sei, mas a verdade é que eu adorei este último Black Mirror. Darren pode continuar sendo um chato, algumas coisas podem soar repetitivas, o vai e vem nos cenários é algo irritante às vezes (além dos puzzles continuarem sendo quase que totalmente baseados no inventário), e ainda tem as animações porcas (acho que as piores da franquia), mas (MAS, MAS, MAS, MAS....) as coisas fluem no quesito principal: a história, que certamente é o principal ponto da ousada saga dos Gordon e - com certeza - foi o que manteve seus fãs presos nesta jornada até o momento.

Como ressaltei, a história (desde o primeiro e clássico jogo) permanece intrigante e, finalmente, temos as respostas e resoluções tão almejadas, além de vários plot twists (eu achava que não era possível existir mais, mas sim, temos alguns bens estarrecedores na verdade). Mas não se preocupe, não é somente de história que vive este terceiro capítulo, afinal temos o ápice dos mais belos cenários estáticos apresentados na franquia (nunca um 2D foi tão belo), e a gama de personagens interessantes faz jus à trama que nos é apresentada, além da adição de uma excelente nova personagem para controlarmos (apesar de somente após a metade do jogo).

Com tanto a reclamar, mas também a elogiar, eu diria que este é o capítulo mais equilibrado e - por incrível que pareça - longo da franquia, nos presenteando finalmente com uma resolução e ainda tentando abrir caminho para uma nova continuação (ou várias - apesar de que dificilmente teremos algo do tipo, afinal o remake do primeiro foi uma desgraça total). Só quem finalizou o jogo entenderá, mas eu senti uma vibe Broken Sword + Gabriel Knight na cena final, e isso me animou bastante (apesar de que alguns segundos depois caiu a ficha e eu lembrei que provavelmente nunca veremos mais desta saga e logo desanimei).

E é isso. Para quem aguentou o Darren e o pastelão do Mordred até aqui, vai seguindo até o final que valerá muito a pena.
Posted 22 May, 2021. Last edited 1 June, 2021.
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20 people found this review helpful
11.5 hrs on record (3.9 hrs at review time)
Um presente para os amantes de FMV e survival horror!

Este jogo me cativou a partir do momento em que vi o seu trailer pela primeira vez, e não foi por menos, afinal a tecnologia FMV aplicada aqui parecia estar acima dos padrões conhecidos e, sim, o resultado é fantástico.

Irei focar nos aspectos técnicos nesta análise, pois qualquer tipo de spoiler acerca da trama apresentada aqui pode realmente estragar o proveito da jornada, e isso seria péssimo, afinal a intrincada rede labiríntica na qual o jogo nos lança é bastante interessante e te prende de uma forma surreal. Vai por mim, não veja vídeos de gameplay e não leia nada acerca da trama, apenas jogue. Vi muitas críticas negativando o fato do jogo possuir um tutorial extremamente vago, mas isso se encaixa perfeitamente na proposta do jogo, e descobrir o que fazer para seguir adiante faz parte da diversão. Pelo menos eu adorei este aspecto, e ao se acostumar com a jogabilidade tudo se torna muito natural.

O que realmente me impressionou logo de cara aqui foi a tecnologia aplicada. Mas você vai dizer "Como assim!? É FMV, e hoje em dia existem tantos que nem tem mais graça!". Certo, concordo, mas eu nunca vi um FMV de qualidade tão impressionante como o apresentado neste jogo, e isso é surpreendente, pois eu já joguei praticamente tudo que existe de FMV e sempre acompanho os lançamentos que o utilizam, e até o momento nada supera o que é visto aqui. Falando de jogos que me impressionaram neste aspecto, eu cito sempre: Gabriel Knight 2 (pode ser antigo, mas até hoje causa inveja na forma em que aplica a tecnologia, além da trama ser uma das minhas favoritas), Black Dahlia (acredito que poucos jogaram este clássico cult, mas certamente é um dos adventures mais incríveis e difíceis que existem, além de possuir um FMV de altíssima qualidade até hoje), toda a série Myst (com destaque para o Revelation, que aplica o FMV de forma inesquecível) e Tesla Effect (eu diria que todos os Tex Murphy são incríveis, mas neste último título a coisa alcança níveis épicos em se tratando de FMV, com a qualidade dos vídeos sendo excelente e as interações também não ficam para trás). E, diante destes belos exemplos, posso dizer que At Dead Of Night tem sim um FMV que os supera, de longe.

Mas então, o que realmente é tão impressionante no FMV existente aqui? Bem, não somente temos "vídeos" de altíssima qualidade, mas a interação diante dos mesmos é de cair o queixo. Tudo bem que guiamos a protagonista por corredores de um grandioso hotel através de setas a la aponte-e-clique, e esse tipo de jogabilidade pode se tornar um pouco repetitiva em certos momentos, mas não é apenas isso. Há vários quartos, portas a serem abertas, novos cenários a serem descobertos, objetos a serem encontrados e - a cereja do bolo - a investigação paranormal. Sim, não basta fugir de um psicopata que mistura IT com Slenderman, você também tem que correr atrás dos fantasmas das suas vítimas que estão presos no hotel e precisam da sua ajuda para conseguirem paz (e claro, também te ajudar a desvendar o passado do maníaco). Esta interação com os fantasmas é que torna tudo ainda mais interessante e, eu diria, agradável. Quando você se acostuma com a jogabilidade, buscar novas pistas e "falar" com um fantasma através do aparato que capta o sobrenatural é bastante divertido, e ainda há uma bússola e um espelho que "mostram" o caminho que deve ser seguido. Tudo isso é muito bem interligado e muito bem aplicado diante desta fantástica mistura interativa de filme e jogo. Eu diria que há interação suficiente aqui para deixar qualquer crítico que sempre utiliza o bordão "Mas FMV é um filme e não um jogo!" sem comentários desta vez.

Além de tudo isso, o psicopata realmente assusta. Inicialmente eu olhei e "Nossa, parece um palhaço falido que esqueceu de tirar a peruca..", mas é exatamente isso que faz tudo ser tão bizarro. Jimmy, propositalmente, é uma caricatura de si mesmo, e o seu passado é o real mistério da trama. Maya é a típica final girl de um típico Pânico, mas isso não é ruim, afinal se encaixa perfeitamente na proposta do jogo, e guiá-la pelos infinitos corredores do hotel realmente é uma tarefa árdua e tensa em variados momentos. E como já citei, os fantasmas existentes no hotel são personagens à parte e adicionam uma total sobrevida ao que poderia apenas ser um jogo entre gato e rato, e buscar pistas que desvendem os seus passados e, consequentemente, o do Jimmy, transforma tudo em um magnífico show dos horrores (no mais belo sentido do termo, tá?). E, ah, só para finalizar esta análise, ainda há conquistas que irão agradar qualquer caçador sedento, pois mesmo sendo poucas, são muito bem aplicadas à trama e seus desafios, e o preço do jogo está muito bom para o resultado do mesmo!

Só jogue, e logo!

OBS: Para os não habituados ao termo FMV, o mesmo significa Full Motion Video, ou seja, é uma técnica que mistura gravações com atores/cenários reais com cenários 2D/3D, depende muito da obra em si. Vale ressaltar que em At Dead Of Night isto funciona tão perfeitamente, que parece parte de um filme em andamento e sem cortes, nos fazendo acreditar que realmente estamos dentro dos cenários. Por isso sua interação é tão realista e incrivelmente convincente.
Posted 21 November, 2020. Last edited 25 November, 2020.
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17 people found this review helpful
23.9 hrs on record
Estou para escrever uma análise do Lorelai há tempos e não poderia deixar passar esse momento, afinal o jogo acaba de receber sua grande atualização com várias traduções, e o idioma PT-BR está finalmente disponível - o qual eu tenho o imenso prazer de dizer que traduzi, com o maior cuidado e carinho possível. Foi uma experiência realmente nova, e meio corrida, mas valeu a pena, pois ver o seu próprio trabalho aplicado a uma obra tão impactante não tem preço, e é sempre muito bom agregar à comunidade. Então espero que, para quem aguardou até este momento, possa estar aproveitando esta fascinante jornada que permeia entre a beleza reflexiva e o macabro gore. Mas agora sem mais rodeios, vamos à análise propriamente dita.

Lorelai é o último membro e - até o momento - dito como encerramento da trilogia Devil Came Through Here, e tem como seus antecessores mais dois adventures que seguem a sua mesma linha - The Cat Lady e Downfall. Antes de adentrar no Lorelai em si, posso dizer que esta trilogia consegue ser única ao nos apresentar protagonistas que, ao mesmo tempo em que estão lidando com suas próprias tramas e processos, também interligam-se em um universo extremamente rico e altamente cruel, dominado por consequências e rotas de um cotidiano literalmente infernal. Mas isso pode simplesmente ser a vida real, não é? Bem, certamente alguns possuem rotinas e cotidianos muito mais difíceis, e é exatamente este cenário que está presente em todos os jogos da saga, mas claro que com altas doses de horror fantástico permeado por uma literalidade demoníaca. Lorelai consegue ser a última porta nesta jornada assombrada por uma intrigante besta.

A protagonista da vez aqui é a Laura (ou Lorelai), que encontra-se perdida diante de pesados problemas familiares e dilemas próprios, e apenas pensa em escapar deste inferno de alguma maneira. Sua jornada será, como nos jogos anteriores, guiada por personagens que cambaleiam muito bem entre a pura maldade e uma cruel ingenuidade, o que nos confunde bastante ao lidar com os mesmos. Mas isso é ótimo, afinal significa que estamos diante de personalidades complexas e que precisam de olhares mais críticos, tornando assim tudo mais real e crível. É muito interessante observar como - falando aqui da trilogia como um todo - este universo apresentado consegue transmitir tanto desconforto e densas reflexões morais, comprovando que cada uma das três peças desta jornada não se baseia apenas naquela personagem apresentada como protagonista, mas em todo um contexto criado que se equilibra muito bem através de personagens e ambientes. Todos são protagonistas, dependendo do momento apresentado.

A crueldade e o descaso são coisas que estão presentes a todo momento na trilogia, mas eu diria que em Lorelai tudo alcança limites inimagináveis, afinal nada parece dar certo para a protagonista, e sua jornada só parece ser cada vez mais e mais difícil. Porém, grandes finais precisam de começos complicados, e certamente este jogo vem com este intuito. Posso dizer que cada final apresentado aqui tem seu brilho próprio, e com certeza a Laura tem muito o que nos mostrar em todos eles. Tudo bem que nenhum jogo da trilogia nos apresenta uma trama que se interliga com o jogo seguinte (pelo menos não diretamente), mas como eu já disse, o universo apresentado abarca todos eles, e não tem como não observá-los como sendo um só. Esta é a mágica construída por esta saga, e aqui temos realmente um final mais do que digno para a mesma. Se vão existir mais personalidades que habitam este mundo, somente o seu criador poderá dizer.

Falando agora da parte técnica do Lorelai, posso dizer que houve uma imensa evolução aqui, não somente com uma engine extremamente mais rica em detalhes (brincando com paletas de cores extravagantes em lindos cenários 2D), mas também com uma trilha sonora muito mais variada - apesar da predominância sempre presente na trilogia: rock pesadíssimo com toques melancólicos de punk ou gótico - e controles muito mais responsivos. No geral, Lorelai consegue ser um triunfo técnico diante do que promete desde o seu início, e não deixa a desejar, pelo menos para mim. Eu realmente sou suspeito para falar, afinal amo a trilogia como um todo, mas tenham em mente que o meu jogo favorito desta jornada é o The Cat Lady (o mais rústico de todos), então para eu elogiar tanto o Lorelai certamente não seria por acaso, pois seria muito mais fácil chegar dizendo que o último jogo da saga não presta porque não segue os padrões do primeiro. Enfim, cada jogo deste universo tem seus próprios encantos e características que os fazem ser realmente únicos, mas não posso tirar o mérito do Lorelai por ser - tecnicamente - o melhor de todos, de longe.

Bem, é sempre difícil escrever sobre jogos dos quais tanto gostamos, ainda mais quando temos um envolvimento mais profundo com os mesmos, mas é isso. Lorelai é único sim, e se você chegou até ele diante das portas infernais do Devil Came Through Here, jogue-o e termine-o aproveitando cada momento, pois certamente não será em vão. Laura, como Susan ou Joe, poderia muito bem ser um reflexo presente na humanidade que nos cerca, ou uma vizinha, ou - quem sabe - você mesmo. Observar a sua jornada, e o término da mesma, com certeza será fascinante, vai por mim.
Posted 29 June, 2020.
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