Até gostei do jogo, mas não dá para recomendar, infelizmente.

1-A história. Aliás, não tanto a história em si, que é bacana, mas o modo como ela é contada. Você é um supersoldado, que mata todo mundo, explode milhares de coisas, todos os seus aliados te chamam pelo nome e te agradecem... Aí seu maior inimigo te captura e.... te solta minutos depois! Você matou metade do exército do cara, mas ele simplesmente deixa você ir. Tá, ok, a primeira vez que isso acontece dá pra deixar passar... só que acontece de novo... e de novo... e de novo. Sabe como em todo filme o mocinho é capturado e, invés de simplesmente matá-lo, o vilão fica enrolando? O modo de contar a história desse jogo é baseado somente nisso. Não é exagero, não é que acontece 1 ou 2 vezes, são umas 10 vezes. Tentam dar maior visibilidade para os vilões, mas o único modo que pensaram foi esse captura e solta, captura e deixa fugir, captura e fica enrolando... o pior é o modo como a sua captura é feita: como eu disse, você é um supersoldado, que mata todo mundo, que destrói sozinho acampamentos fortificados inteiros... mas quando o vilão quer te capturar, é só mandar alguém com uma arma carregada com uma bala especial com sonífero que você leva um tiro e já era, acorda na jaula... não há o que fazer, não há como se defender, é do script do jogo... se é assim tão fácil me capturar, por que raios você me deixou destruir seu exército e te matar?
Matar criança? Sem problema. Torturar um monte de gente inocente? De boas. Deixar centenas de corpos crucificados por aí? Claro, por que não? Matar o cara de tá dizimando meu exército? Ah não, isso não, vou capturá-lo e tentar dar uma liçãozinha de moral... várias e várias vezes.
2-A quantidade de inimigos, animais e mesmo de aliados, e o modo como todos eles spawnam no mapa. A cada minuto andando pelo mapa você vai encontrar 3 ursos, 1 pantera, 2 gambás e uns 15 wolverines. Se você ficar parado na beira de uma estrada, em poucos segundos vai ter uma pilha de carros, alguns de inimigos, outros de aliados e alguns de civis. Andando pelas trilhas das montanhas, a cada 15 passos você encontra um vendedor caminhando e todos fazem a mesma piadinha. O jogo tenta ser frenético e cheio de ação sem a menor necessidade. Daí surgem alguns problemas: se você encontra algum civil andando por aí, ele vai morrer nos próximos segundos, seja por um ataque inimigo ou, mais provavelmente, por um animal qualquer. Enjoa. Uma das primeiras coisas que vi no jogo foi um urso atacando um boi; pensei: que legal, bela atenção a detalhes. Aí 5 minutos depois vi outro urso atacando outro boi. 10 minutos depois, vi outro. Enjoa. A mesma coisa acontece em várias situações, que em princípio seriam um detalhe bacana, mas o jogo parece uma criança tentando mostrar que fez alguma coisa legal, e insiste em repetir a cena até o player enjoar dela.
Se encontrar um urso no meio da floresta fosse assustador como na vida real, e ele fosse capaz de te matar num instante e você precisasse correr ou se esconder para sobreviver, seria muito mais interessante que a abordagem que o jogo faz: você encontra uns 500 ursos durante o gameplay, mata cada um deles com uns 2 tiros e, se por acaso ele conseguir te atacar, só tira 1/5 da sua vida... preferia muito mais que durante o jogo todo eu só encontrasse um urso, mas que isso significasse algo desafiador... que toda vez que eu estivesse me esquivando pela floresta para tentar entrar no campo inimigo de surpresa eu precisasse ficar de olho nos animais e mudar de estratégia caso tivesse um puma no caminho... mas não, infelizmente, tudo que os animais fazem é encher o saco e matar civis.
Esse excesso de gente não faz o jogo difícil, principalmente se você não dá uma de Rambo, mas é muito chato e quebra totalmente a imersão quando você está numa cabana isolada, que está completamente deserta, resolve andar por 10 segundos numa trilha próxima para ver se encontra alguma coisa escondida e, ao voltar para a cabana, dá de cara com um monte de gente que surgiu do nada.

O jogo também sofre de alguns problemas comuns, principalmente em jogos open-world. Os FarCry 3 e 4 tem praticamente todos estes defeitos também:
-Bugs de som, como NPCs que mudam de voz (à la Oblivion) e conversas se sobrepondo ou cortando;
-Conversas via rádio que aparecem do nada e em momentos completamente inadequados, que o jogador não consegue prestar atenção por estar ocupado num tiroteio ou coisa assim. Você tá lá quase morrendo e o cara no rádio fica falando que não sei quem gosta de pescar não sei onde.... Fora que às vezes é difícil identificar quem está falando com você; a pessoa te chama no rádio e você fica tentando lembrar de quem é essa voz;
-NPC que te agradece por salvar a vida dele e 2 segundos depois esquece quem você é e te cumprimenta novamente;
-O player é livre para escolher a ordem em que vai fazer as missões, mas algumas vezes isso deixa as coisas fora de ordem ou mesmo sem sentido;
-Podemos dirigir carros, quadriciclos, helicópteros, aviões, wingsuits, paraquedas, barcos... mas NENHUM é prazeroso. Todos tem controle limitado ou simplesmente ruim, tanto no teclado quanto no controle (x-box). Para se ter noção, os aviões não tem nem controle de leme... mesmo assim tentaram fazer uma missão onde há um patético dogfight contra um dos vilões num avião da 2ªG.M. Senti vergonha alheia do péssimo controle dos aviões, que faz GTA parece um simulador extremamente realista;
-Aliás, tudo que envolve veículos no jogo deixa a desejar... os NPCs dirigindo parecem crianças bêbadas; se o player estiver dirigindo e se aproximar de alguém, mesmo se estiver extremamente devagar, a pessoa se assusta e sai correndo, muitas vezes te fazendo perder algum diálogo; às vezes carros desaparecem no instante em que você olha pro outro lado;
-A IA não é lá essas coisas... inimigos ficam a todo momento mudando de posição quando estão em combate, mesmo se eles estão numa posição vantajosa eles saem correndo e se expõem... isso fica muito pior em locais com grande variação vertical, como construções de vários andares. Os inimigos ficam subindo e descendo as escadas sem parar, sem motivo algum;
-Algumas coisas não fazem sentido, e por pura e simples preguiça dos desenvolvedores. Ex.: uma moça pede pra você buscar um barril de whiskey que está no fundo de um lago há mais de meio século. Chegando no lugar, você encontra o barril dentro da carcaça de um helicóptero moderno, que com certeza não está afundado no lago há mais do que alguns meses... Custa fazer um diálogo que combina com a missão em si?
-É comum ver inimigos, veículos e animais aparecendo do nada. Existe um avião inimigo que vem tentar te matar às vezes, e, ao ouvir o barulho do avião, se você olha pra cima SEMPRE verá o avião se materializando no ar;
-Para fechar a lista de problemas, o jogo precisa de Uplay, que apesar de não ser mais a porcaria absoluta que era uns anos atrás, ainda é um programa a mais que você precisa logar e que atrasa o início do jogo e que pode atualizar automaticamente de vez em quando, atrasando mais ainda e que pode bugar seriamente, não te deixando iniciar o jogo;

Apesar dos problemas, dá sim pra aproveitar o jogo... os gráficos são bem bonitos; a história é razoavelmente interessante, apesar de ser mal contada; as missões não são nada de especial, mas também não são ruins; tem bastante coisa pra explorar; tem vários personagens que você pode recrutar e vários estilos de abordagem para as missões; o final é bem polêmico (vai muito do gosto pessoal, eu particularmente gostei)... não posso recomendar o game porque existe jogo muito melhor por aí e acho que não vale o tempo gasto para zerar, mas se você gostou dos outros FarCry e está disposto a deixar de lado os problemas apontados, vá em frente, pois o FC5 não é tão ruim assim... está no mesmo nível dos outros jogos da Ubi... tem lá seus defeitos, mas também tem uma base sólida.