Nasceu com alma feita em luz,
num mundo frio, sem direção.
Sorriu, embora a dor conduz
cada batida do seu coração.

Ofereceu o pouco que restava,
em troca, o mundo lhe deu vazios.
Palavras doces, voz que acalmava,
morreram nos próprios desvios.

Abraçou feridas que não cicatrizam,
silêncios longos como punhais.
As mãos que curam, que amenizam,
nunca recebem gestos iguais.

Caminha só, mas sem rancor,
o peito aberto, o olhar fechado.
Gentil demais pra gritar a dor,
bom demais pra ser lembrado.

Agora é sombra, brisa e cansaço,
um corpo inteiro feito de ausências.
Um coração que, por ser abraço,
foi condenado às penitências.