Install Steam
login
|
language
简体中文 (Simplified Chinese)
繁體中文 (Traditional Chinese)
日本語 (Japanese)
한국어 (Korean)
ไทย (Thai)
Български (Bulgarian)
Čeština (Czech)
Dansk (Danish)
Deutsch (German)
Español - España (Spanish - Spain)
Español - Latinoamérica (Spanish - Latin America)
Ελληνικά (Greek)
Français (French)
Italiano (Italian)
Bahasa Indonesia (Indonesian)
Magyar (Hungarian)
Nederlands (Dutch)
Norsk (Norwegian)
Polski (Polish)
Português (Portuguese - Portugal)
Português - Brasil (Portuguese - Brazil)
Română (Romanian)
Русский (Russian)
Suomi (Finnish)
Svenska (Swedish)
Türkçe (Turkish)
Tiếng Việt (Vietnamese)
Українська (Ukrainian)
Report a translation problem
Tive momentos nessa substância em que o tempo se abriu como uma fruta podre e eu vi tudo. Toda mentira, toda verdade, todo motivo pelo qual tememos a honestidade. Fumei crack e percebi que ainda amava uma menina da 6ª série, então ri disso e reconfigurei o circuito emocional ao vivo, na hora. Chá de erva cidreira faz isso? Banho gelado faz isso?
Duvido.
Meu vizinho é sóbrio. Toma chá de erva cidreira e assiste globo repórter. Faz marmita. Tem um carro caro e uma aposentadoria privada. Também tem olhos mortos. Perguntei uma vez o que ele pensa quando está sozinho. Ele disse “geralmente só coisas do trabalho ou futebol”. Quase chorei. É isso? Esse é o mundo interior inteiro do “homem saudável”? Sem visões? Sem piadas cósmicas? Sem guerras entre anjos e pensamentos intrusivos?
Vamos continuar.
O carteiro passa em frente ao meu apartamento todo dia de manhã. Ele tem aquele olhar derrotado. Como se a alma dele tivesse saído do corpo em 2009 e ninguém avisou. Ele se move como se o tempo fosse uma punição. Eu aceno. Ele não acena de volta. Não o culpo. Provavelmente me viu pelas persianas, sem camisa, digitando 160 palavras por minuto enquanto fazia elevações de panturrilha e pensou: “Por que não sou eu?” Mas ele nunca vai perguntar. Orgulho demais. Energia de menos.
Sabe o que o anao sóbrio médio tá fazendo às 6:00 da manhã? Adiando o alarme em um colchão que cheira a ansiedade e sonhos quebrados. Você tropeça até a cozinha achando que é um guerreiro só porque fez café preto sem açúcar. Esse é seu auge. Esse é o seu grande feito do dia.
Eu acordo às 5:12 da manhã. Não preciso de alarme. Meu corpo simplesmente sabe. Bebo um copo d’água (com eletrólitos, óbvio), me alongo, agradeço a Deus ou à simulação ou seja lá o que comanda esse mundo, e então me sento de pernas cruzadas em completo silêncio até sentir que é hora. Aí eu fumo crack. Uma ou duas tragadas. Não para ficar “chapado”. Não tô atrás de sensação. Tô afinando meu cérebro, como um carro de Fórmula 1 antes da corrida.
E então o dia começa.
Deixa eu explicar uma coisa pra quem escolheu ser medíocre: nem todo uso de drogas é igual. Nem todo mundo que fuma crack é um “cracudo”. Essa é uma palavra que você usa pra simplificar um mundo que você não entende. Eu fumo crack duas vezes por semana. Como um relógio. Não por vício, não por desespero, mas porque descobri algo que 99% de vocês nunca vão descobrir: como transformar intensidade em arma.