Então... piá, eu acho muito batuta se exercitar, tipo, dá pra tanto correr até levantar ferro. Tu tá lá, fica cheio de suor, sem fôlego mas cheio de motivação, cheio daquela vontade de chegar em casa e descobrir da surpresa de encontrar uma torta de limão em cima da mesa da cozinha. Os olhos brilham e começa a dar água na boca, sem mais nem menos, mas claro, como todo bom guri cê pergunta: (ô manhêêê, posso comer a torta?) e ela diz que comprou só pra você. Lá, café da tarde, 4 da tarde de outono, verão, primavera e inverno, sentando na cadeira da cozinha pra comer aquela torta, aquela bendita torta de limão. Começa a flutuar nos pensamentos a cada segundo que passa, aumentando lentamente teu anseio e gula por aquele pedaço de paraíso estacionado bem na sua frente .

Mas claro, infelizmente nem tudo são flores na vida, pois, você acabou de chegar em casa, suado, ofegante, cara de peixe abalado, querendo se sentar na cadeira, na estampa da cadeira da cozinha, na frente da sua mãe, com essa bermuda suja... é pedir pra perder aquilo que mais puxou o fio de seu coração como nada antes nesta vida, a torta de limão. A mesma torta que por um triz, não lhe impede de ter uma prova do que conhecemos como amor, mas que, por sua consciência pesada e pensante, não foi capaz de impedir o inevitável. Pode ter sido adiado o destino dessa torta, mas que o próximo dia, não haverá mais a garantia de ar puro correndo por sua doce face.

Então a jornada do herói se inicia né, muda limpa de roupas, íntimas também não se esqueça meu filho, toalha lá no varal, já tá seca mesmo, e a Havaianas que o gnômio conseguiu entalar na fresta de baixo da porta (jegue do djanho). Mas enfim, cof cof... entrou pó na guela, ááhn, isso que dá não fechar a janela, deu previsão de ventania mais cedo... ai ai, pelo menos aprendeu algo novo hoje. Mas ein! Não tá esquecendo nada não meu filho? Tava até agora a pouco quase chorando de tentação por aquela torta e agora tá aí, meia hora escolhendo a roupa pro banho... impressionante, será que não era apenas um amor temporário? Lucas? Ei? Ô cadê você? A. (corta, coloca isso não)

Tá, dentro do banho, mesmo ventando, não tá muito frio hoje, pelo menos não agora de tarde 4 e meia né. Bem, o chuveiro foi ligado no morno, não vai dar problema, mesmo você correndo risco de pegar caspa nessa gadeia, projeto de arbusto aí... mas tá tá tá passa logo o xampu (shampoo???), um belo sabonete nesse peito, pernas, braços (parte íntima), mas também a não íntima. Pronto, sai logo daí, tá uma neblina o banheiro, parece uma sauna ô maluco. Como é? A sim, ficou uma vida escolhendo a roupa pra me esquecer da cueca, parabéns ó. Agora ou vai só de calça ou de toalha pro quarto pegar o que tu esqueceu, vai rápido, a torta tá esfriando.

Finalmente, decidiu colocar o que precisa, agora falta só... que barulho é esse? São 5 da tarde, acabou com a água do bairro meu, meia hora nessa budega de ducha. Tua irmã chegou, eai, adivinha o que é o som depois de lembrar disso. Ata já se foi.

Mas ó, foco cara, ela não viu teu bem precioso ali estampado na mesa. Não pode chegar nela falando "quem você acha que é? Chris Bumstead, o CBum?" não né, já tá grandinho, mas nem tanto assim também. Você é brega, mas isso é coisa nova... tá inovando, mas ainda tá no atacadão de campo. Você só não pode deixar de ser, você mesmo.

Pega aquela torta Lucas, Lucas?

Ata, ela já comeu. Bem, esse dia será lembrado como o dia em que você quase comeu Lu- torta de limão.